domingo, 9 de setembro de 2012

Livro bom

"Cannery Row é um poema, um mau cheiro, um rangido, um tipo de luz, uma cor, um hábito, uma nostalgia, um sonho."

Pronto! já me ajeitei na poltrona feliz. Um livro que começa com essa frase já me promete um tempo de felicidade. 
Sabe quando a gente encontra uma nota de dinheiro em um bolso de casaco e fica muito feliz? Esse livro foi assim. Estava na estante juntamente com uns 5 do mesmo autor. Dele, tinha lidoAs Vinhas da Ira e o Diario de viagem. Não me entusiasmei. Ah! mas já vou começar Doce quinta feira!

Sou uma dependente de livros. Quando criança ou jovem lia de tudo. De M.Deli a Dostoievsky sem critério. Agora ando exigentíssima. 

Em primeiro lugar quanto à temática. Se o livro é violento, mau e escatológico , out! Não quero saber. Aos 18 anos eu tinha tudo a aprender. Hoje, aos 57, também tenho mas essa parte eu já aprendi. 
Em segundo, o estilo.
Não sei qual o pior, se o estilo best-seller, sim, pois se o livro vende muito pode estar certo que é ruim. É bom pra indústria, pra editora e pro autor mas não é bom pra formação de leitores nem pro mundo. Simplesmente porque é impossível atingir tanto auma jovem carioca,quanto a um seringueiro no Amazonas quanto a um monge do Tibet. É impossível. Como é impossível um best-seller, em geral, atinge toda a classe média , a burguesia do mundo. Logo, é ruim. Como dizia Nelson Rodrigues, a unanimidade é burra. Um desses best sellers que tentei ler pois segundo uma pessoa a autora era maravilhosa começava assim: a marcha indolente do velho chevrolet.. AAAA! Morte a todas marchas indolentes!!! Sucata aos velhso chevrolets!!! 
Pode ser que um best seller seja um bom entretenimento, mas só isso. Assim, entre eles, recomendo o best seller Irwing Wallace, por exemplo. Ele pega um tema controverso e envolve numa trama no melhor estilo americano. E você se distraiu durante uns meses. 
Esse tipo de best-seller é melhor do que o pretenso literário. Pois ele não te engana. Você compra o que ele promete, aventura e romance! 

Ah.. mas há certas coisas que não são imitáveis. E o gênio é uma dessas coisas. Ele é pra você usufruir mas não para você se inspirar nele. Na nossa música temos, por exemplo, Jorge Benjor. Um gênio. Só ele pode fazer o que ele faz. Só Jorge Benjor pode falar em uma canção
"Essa gravata é o relatório
De harmonia de coisas belas
É um jardim suspenso
Dependurado no pescoço
De um homem simpático e feliz
Feliz, feliz porque... com aquela gravata"

Qualquer outro que o imite ou seja inspirado por ele é pseudo. Guimarães Rosa na literatura é assim: o gênio. Aí um mundo de gente vê isso e quer ser igual!! Ó céus! e engana outro mundo de gente e aí, meu amigo, não tem mais jeito. 

Há um autor estrangeiro incensado, lá fui eu lê-lo. Tava na cara que ele tinha lido o nosso Guimarães e queria ser igual. Aí ficava enganando os trouxas e deve ser infeliz, pois certamente sabe que não chega aos pés do mestre e nunca chegará. Temos muitos assim na nossa literatura. Fazem mal à humanidade. Principalmente nos dias atuais quando editoração é um business. Não se trata mais de literatura e sim de negócios. Os próprios editores ficam confusos quanto à literatura.

Assim, quando eu peguei esse livro foi uma bênção! 
É meu gênero de livro, quando não há um único personagem cuja saga somos convidados a seguir e sim tudo é personagem. Da casa, ao cachorro, do homem à mulher à criança à doença e à alegria. 
Uma rua. Seus habitantes. 
O editor o critica, diz que o Steinbeck idealiza e ele está errado. 
Daria um grande filme! mas, pelo que li, o filme que foi feito foi horrível e faria o autor se revirar no túmulo. 

O autor desnuda a América, claro. Ele não se engana. E nos oferece o verdadeiro americano do dia a dia de maneira magistral.
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Recentemente assisti a Rubens Figueredo em uma entrevista com a filha do Rubem Fonseca, Beatriz Fonseca. Ah! comprei todos os livros dele depois disso. Aguardo chegarem. 
Ele pensa como eu! Disse literalmente: livros que vendem muito não podem ser críticos, pois pertencem ao sistema. Não são bons para desenvolver o hábito da leitura, para a leitura.


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