segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Para Tamiires


Uma jovem me procurou  no Orkut pois iria fazer um trabalho sobre meu livro Vestibilhar de Medicinuca. Fiquei feliz e orgulhosa pois a professora deixou a escolha livre,  e, entre tantos títulos, ela escolheu exatamente um livro meu.

Este livro se passa no ano de 1972, ano do meu vestibular. Para escrevê-lo, passei seis meses na biblioteca nacional pesquisando. Li todos os Jornais do Brasil do ano de 72. Todos. Lia e anotava.

Rola uma tendência de nós ao envelhecermos entrarmos na síndrome do “no meu tempo” como se tivéssemos vivido um tempo melhor.  E não é nada disso. Claro que o sorvete Kibon da minha infância era muito melhor do que se tornou nos anos 90. No entanto, hoje, está muito melhor,pelo menos o de chocolate. Logo agora que não posso mais comer chocolate! Mas, mesmo sendo um sorvete gostoso, vamos combinar que não primava pela higiene. Até grampo eu  vi dentro do sorvete Kibon na ida década de 60. Mas perdemos a jujuba, o delicado, o Ki-bamba e o Ki-coisa. Seus similares são esponjosos e perfumados,ruins mesmo. O bombom alpino, então, nem se fala. Costumava ser a melhor coisa do mundo quando falhava na higiene, já que a embalagem deixava o chocolate exposto. Hoje tem gosto de fumaça. Isso só é compensado pela maravilhado “dark and soft” e uma variedade daquelas que...

Pera lá! não era esse o tema! sempre viajo. Voltemos ao Vestibilhar de Medicinuca. Tamiires, a jovem que quer saber, me pergunta qual a minha motivação ao escrever o livro. Devolvi a pergunta: o que você acha?
Dois foram os meus nortes. Um deles foi escrever um livro com um subtítulo virtual; Vestibilhar de Medicinuca ou Nós que não fomos presos. Pois tudo o que trata dessa época tem como protagonistas pessoas envolvidas em política, deixando a impressão de que todo mundo era engajado e não era assim, muito pelo contrário. Afinal, sei fosse assim, não tinha durado tanto. E o engraçado é que o filme 1972 também marcou esse ano como algo especial, gostei da coincidência.
O segundo norte foi mostrar as diferenças. Principalmente no que tange o ingresso  à faculdade. Quem lê o livro deve notar que em nenhum momento se fala a expressão “ ingressar no mercado de trabalho”, frase hoje sine-qua-non até pra se fazer pulseira de miçanga. A gente ia para a universidade com dois propósitos: namorar, que ninguém é de ferro e se realizar como pessoa mudando o mundo. A gente queria mudar o mundo, não era como hoje que ninguém mais quer mudar nada, só se quer upgrade. Ainda se discutia se a mulher devia ou não trabalhar fora. Ainda se discutia se a moça devia ou não casar virgem. Ainda não se falava palavrão na frente de mulheres, nós estávamos começando a aprender a falar merda em voz alta. Éramos pioneiros. 5 anos depois tudo tinha mudado! até o uso de droga era diferente. Poucos  iriam atrás de uma droga estimulante como cocaína, droga típica da pressa, do ganhar dinheiro, do estresse, a droga predileta dos setores de entretenimento , política e bolsa de valor. Ninguém sequer pensaria em usar extasi, a não ser por experiência sexual. As drogas eram lisérgicas, visuais e calmantes. Tinham o objetivo do prazer, do conhecimento. Não era para ganhar dinheiro . Claro que para se passar no vestibular e virar a noite se usava droga, drogas legais , no sentido de legalizadas. Mas não a minha turma, a turma das ciências humanas. Afinal, nos anos 70, o cara mais atraente fazia história e não engenharia.  Eram valores diferentes.

  Então, Tamiires, esta foi a minha intenção, e eu espero ter passado isso. Espero ter despertado a curiosidade ao lembrar que houve um tempo sem computador, sem telefone celular, sem joguinhos eletrônicos. Um tempo quando ser culto era moda. Quando não se estava interessado em ganhar dinheiro ou ser celebridade. Onde Big Brother não vingaria já que não se estava interessado em ser celebridade. Um apartamento legal não tinha sofá ou televisão das Casas Bahia. Televisão era coisa de careta. Almofadas, estantes repletas de samambaias e livros feitas de caixas d´água ou caixotes de maçã ou tábuas e tijolos. A palavra customizar não existia mas nossas roupas o eram.

 No mais, pergunte!
(José Olympio Editora. Texto e ilustrações meus)

sábado, 6 de outubro de 2012

Filmes bons

Esse mundo tecnológico é uma maravilha. Antigamente, quem quisesse ver um filme tinha de ir até o  cinema.  Então, cinema era coisa de cidade e de cidade grande. Aí veio a TV. Lembro quando ela chegou na minha casa, eu tinha 3 anos. Precisava esquentar primeiro e os filmes em preto e branco eram legendados . Não dava para ler sempre, às vezes coincidia  a letra branca no fundo branco.  Os melhores aniversários infantis tinham "cineminha" Ah! como eu adorava!  Aí TV em cores e o video cassette! A essa altura eu já tinha filhos. Comprei vários títulos para rever, rever, gravei montes da TV e.. sim, DVD!

Hoje, morando no meio do nada, posso assistir filmes pelo computador e pela tv de assinatura. E foi isso que fiz. Liguei a tv pela manhã enquanto pedalava na ergométrica e assisti ao filme Rockstar. Um jovem roqueiro substitui o vocalista de uma banda, passa por drogas/sexo/rockandroll , claro, e ao final do filme decide que essa vida não era para ele, prefere fazer seu próprio som , simples e sem pressão.

Pela tv , hoje, assisti ao filme Se enlouquecer não se apaixone. Eu tinha visto a chamada , mas não me impressionei. Evidentemente um filme pra jovens, e eu, apesar de escrever para jovens não curto filmes para jovens. Gosto de filmes que jovens também gostam, é diferente. Mas não assisti ou li Crepúsculo e vampiros, pra mim, só mesmo A dança dos Vampiros. Vampiros não  me interessam. E filmes em manicomios..ora, depois de Um estranho no ninho e A garota Interrompida, chega, né?
Mas assisti e como assisti! com todo interesse e, ao final, lágrima nos olhos.  Um jovem se sente deprimido, um jovem que teoricamente tem tudo pra ser feliz, e se interna e fica uma semana no manicômio. E se sente mais forte após disso.

Pelo site do Netflix assisti ao filme Paris. Um rapaz está com um problema cardíaco muito sério e sua irmã se muda para seu apartamento com os 3 filhos para cuidar dele. E assim passeamos por Paris, por todos os lados de Paris, por dentro e por fora.

Sim, recomendo, mas me fizeram pensar. Os filmes americanos estão cada vez mais críticos às pressões do sistema, mas as soluções são sempre individuais. Se largam os modelos de "winner" de sucesso, nunca tentam uma solução coletiva. A impressão que  me dá é que o filme é só catarse, nunca crítica. Pois o problema para o roteirista está sempre no protagonista que não sabe viver a vida bem.

Já o filme Paris , apesar de também mostrar que a gente tem muito o que apreciar quando se está vivo, não oferece visões mais otimistas do mundo, apenas usar os sentidos.

São ótimos filmes e os recomendo, mas, que tal nos darmos as mãos para mudar as coisas e culpar os verdadeiros culpados?